Durante cinco décadas, o livro Forever… de Judy Blume tem sido considerado uma etapa importante na vida dos jovens leitores, devido à sua abordagem sincera e sem tabus em relação a temas adultos como sexualidade e contracepção. Agora, essa história de amor icônica chega à tela através da adaptação para a Netflix, desenvolvida por Mara Brock Akil (Girlfriends).
Os fãs do romance de Blume podem não reconhecer de imediato a adaptação de Forever. Embora a essência do romance permaneça a mesma, Brock Akil atualiza a história para 2018, explorando como a tecnologia, como telefones e internet, pode complicar um relacionamento inicial. Além disso, ela transforma os protagonistas em adolescentes negros e introduz novos conflitos internos para eles. O resultado é uma representação doce e realista do amor juvenil, que se afasta do romance original de Blume, mas ainda o complementa de forma significativa.
De que forma o seriado Forever da Netflix difere do livro escrito por Judy Blume?

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Enquanto Forever… introduziu-nos a Katherine e Michael, dois idosos do ensino médio branco que residem em Westfield, New Jersey, os protagonistas de Forever são Keisha (Lovie Simone) e Justin (Michael Cooper Jr.), dois estudantes do ensino médio negros em Los Angeles. Antigos amigos da infância, agora frequentam escolas diferentes, ambos com aspirações no desporto. Keisha, uma talentosa corredora, aguarda uma bolsa completa para a Universidade Howard, enquanto Justin procura alcançar a glória no basquetebol numa escola da Divisão I.
Quando o casal se reencontra em uma festa de Réveillon, surge uma intensa química — de forma literal. Fogos de artifício explodem no momento do primeiro beijo deles, e o toque inicial de Justin em Keisha é acompanhado por uma trilha sonora orquestral grandiosa. Essa dose de drama é ideal para um romance adolescente, onde cada toque ou mensagem de volta pode parecer crucial.
Keisha e Justin se preocupam com a troca de mensagens, principalmente quando estão no início do relacionamento e trocam mensagens carinhosas e chamadas de vídeo animadas. Quando ocorrem desentendimentos entre eles, eles acabam cometendo vários erros antes de se reconciliarem, e é nesses momentos que o botão de bloqueio se torna sua principal estratégia.
O receio de ser bloqueado e perder essa conexão online é apenas uma das diversas maneiras pelas quais Brock Akil moderniza a história de Blume para o século XXI. Outro exemplo é a divulgação de um vídeo de sexo oral entre Keisha e seu ex-namorado Christian (Xavier Mills), que tem gerado repercussões negativas, tanto online quanto no mundo real, levando Keisha a mudar de escola. Essa atualização traz à tona questões de bullying presentes na obra de Blume e destaca os novos desafios associados à intimidade na era digital.
O programa Forever da Netflix aborda temas de sexo e intimidade, embora não chegue ao mesmo nível de profundidade explorado por Judy Blume.

A intimidade desempenha um papel crucial em Forever, sendo indispensável para adaptar o romance, que aborda os primeiros momentos do amor, como o nervosismo presente na cena sexual entre Keisha e Justin, que são os primeiros.
Em geral, a série Forever é aberta e direta em relação ao tema do sexo. Keisha e Justin conversam sobre seus limites e frequentemente solicitam consentimento antes de avançar. Em uma cena hilária, o pai de Justin, Eric (interpretado por Wood Harris), incentiva seu filho a praticar colocar preservativos em um pepino sob sua supervisão. (E, de fato, assim como Michael no romance, Justin dá um apelido de Ralph ao seu órgão genital.)
Mesmo assim, percebe-se que a série está evitando abordar os temas tabus que tornaram Forever… um sucesso tão grande e controverso, chegando até a ser incluído em listas de livros proibidos. A liderança de Keisha e Justin carece de exploração sexual e a série não aborda questões de controle de natalidade para além do uso de preservativos. Isso faz com que, em alguns momentos, Forever pareça mais um drama adolescente comum, perdendo elementos importantes que são relevantes para o público adulto jovem tanto na tela quanto na literatura.
Forever apresenta dois excelentes protagonistas românticos em Keisha e Justin.

No entanto, a falta de abordagem de Blume em relação ao sexo em “Forever” é compensada pela profundidade dos personagens. Keisha e Justin são protagonistas românticos muito bem desenvolvidos, a ponto de eu gostar de vê-los juntos, mas também considerar interessante vê-los separados.
E isso é algo positivo, pois Brock Akil criou obstáculos significativos para Keisha e Justin superarem, além de lidarem com seu relacionamento. Keisha está enfrentando o retorno de um vídeo íntimo, que ela ainda não compartilhou com sua mãe solteira, Shelly. A preocupação cresce à medida que a série avança, especialmente com o interesse do atleta Christian por Keisha, algo que Shelly não percebe. Os problemas financeiros da família de Keisha também se tornam evidentes, contrastando com a família rica de Justin. Apesar de todas essas preocupações, Keisha mantém a cabeça erguida e reconhece seu valor, uma confiança que contrasta com a insegurança de Justin. Juntos, os dois jovens protagonistas são dinâmicos.
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Diferentemente de Keisha, que está fadada a um futuro incerto, Justin se encontra em uma encruzilhada em relação aos seus objetivos de vida. Enquanto seus pais anseiam que ele jogue basquete em uma universidade de elite, Justin é confrontado com dúvidas sobre seus próprios desejos. Frequentando uma escola secundária majoritariamente composta por alunos brancos, ele se sente deslocado. Conforme a pressão para decidir sobre a faculdade aumenta e ele tenta lidar com seu TDAH, Justin se vê dividido entre o papel de Keisha em sua vida: será uma distração ou a chave para ele aprender a se expressar e descobrir seus próprios desejos?
Ao expandir significativamente o enredo original de Blume, o filme Forever demonstra sua habilidade em reinterpretar de forma cuidadosa a história de Blume, abordando questões de raça, classe e sexualidade. Embora Keisha e Justin sejam diferentes de Michael e Katherine, seu amor ainda mantém uma ligação sólida com o romance original. Como Blume menciona em seu site, a ideia para Forever surgiu quando sua filha Randy expressou desejo por uma história que apresentasse um casal jovem apaixonado que pudesse ter relações sexuais sem que isso resultasse em tragédia. E, sem dar spoilers, é exatamente esse o enredo de Forever na Netflix também!
Sim, a obra de Blume já serve como um ponto de referência para os jovens adultos ao refletirem sobre suas próprias vivências na adolescência. Com algumas adaptações cuidadosas, a série de Brock Akil pode alcançar um objetivo similar e também apresentar o trabalho de Blume a uma nova geração.
Forever está atualmente disponível para streaming no Netflix.
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